sexta-feira, 30 de novembro de 2012

SERRA DA ESTRELA
Cântico da Harmonia da Terra
(1ªParte)


Para os miúdos e adolescentes das Beiras, a Serra da Estrela é o Paraíso impossível de seus avoengos.
Majestosa e exalando perfumes naturais; acolhedora, mas sugerindo disciplina ao explorador do infinito; dotada de costados de ângulos polidos em simultâneo com pontas arrebitadas e cristas afiladas, esta montanha parece querer reflectir a geografia celeste, mesmo com trovões em Maio, nevões de Carnaval, dança de nuvens em dias ventosos, chuvadas de lavar a cara dos zimbrais, das urzes e dos piornos, enquanto medram míscaros e tortulhos nos pinhais de seu extenso perímetro ecológico.
Percorrer os recantos da Serra da Estrela transporta o aventureiro aos segredos mais salutares da Terra das utopias perseguidas. Os ousados deparam com figuras antropomórficas esculpidas em penedos com raízes neste solo, por vezes fustigado por incendiários de índole mercenária ou com perturbações do foro psiquiátrico. E também serenos lençóis de água potável, que alimentam nomeadamente as goelas logo transformadas em enguias ondulantes de cursos de água memoráveis, a começar pelo Mondego, Alva, Zêzere e Dão. Ah! E as searas de neve para contentamento de esquiadores e martírio de pastores de Manteigas e zonas vizinhas com seus gados gulosos por pasto macio, outrora forçados à transumância para o Alentejo e ainda hoje persistentes na preparação do queijo cremoso que, associado à broa, ao pão centeio e ao mel, até fazem esquecer a fraqueza da generalidade dos vinhos dos quinteiros, contudo, com focos de qualidade em terras como Pinhel, Trancoso, e mais para sul, na Covilhã e no Fundão, com um néctar dourado para os vinhedos à sombra do castelo e judiaria de Belmonte.
Ao lusco-fusco outonal e primaveril, os caminhos que conduzem ao cocuroto da Estrela - a emblemática Torre, já apetrechada de lojas reveladoras das especialidades da região altaneira - desde Seia, Manteigas, Covilhã, Gouveia, Celorico da Beira, Fornos de Algodres, parecem afluentes das baías e rios desenhados no espaço aéreo, em tons de ouro e prata inacessíveis a bandoleiros de ourivesarias.

Gabriel  Raimundo

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